Empregados da Domestilar recebem péssimos salários pagos pelo milionário Jaime Nunes
Por Richard Duarte
O empresário bolsonarista e vice-governador Jaime Nunes, candidato ao governo pelo PSD, é conhecido pela indiferença social no relacionamento com os trabalhadores de suas empresas. Dono do maior grupo amapaense de varejo, as lojas Domestilar, investe pouco em benefícios sociais para seus funcionários, não tem plano de carreira, não recompensa o desempenho dos que trabalham melhor, paga salários miseráveis (com uma lista enorme de descontos e quase nenhum benefício, conforme consta em contracheque), mesmo para quem ocupa cargos de chefia, e costuma esconder-se atrás da muralha hierárquica erguida para manter-se a distância, como um Vaishya indiano do tipo "eu sou melhor que vocês".
Há alguns dias, Nunes vem divulgando vídeos nas redes sociais em que aparece reunido com representantes de vários setores econômicos dizendo que, se for eleito, atrairá grandes empresas para o Amapá com o propósito de "gerar emprego e renda". Nas filmagens, aparece com pose de estadista, gesticulando como se estivesse tomando grandes decisões, esperando com isso convencer o eleitor da seriedade de sua promessa.
Na opinião do economista Valdeci Gusmão, pesquisador e professor universitário, para atrair grandes empresas é necessário investir na infraestrutura viária do Estado, principalmente, concluir a pavimentação e o asfaltamento da BR-156, uma das obras mais antigas do Brasil, com quase cem anos; promover, em parceria com a CEA-Equatorial, melhorias no fornecimento e distribuição da energia elétrica e, igualmente importante, melhorar a qualidade da internet local, considerada uma das piores do Brasil.
"Jaime Nunes sabe disso. Só não mostra essa realidade nos vídeos porque está em campanha política e certamente pegaria mal pra ele", assinala Gusmão.
Conforme Gusmão, em três anos e meio na vice-governadoria do Amapá, em nenhum momento o dono da Domestilar fez algum esforço para implementar esse projeto. Ou, pelo menos, viabilizar um debate público sobre o assunto. "Ele está no exercício do segundo cargo mais poderoso do executivo estadual; poderia ter proposto algo nesse sentido, promovido encontros entre empresários da própria região Norte, palestrado sobre o assunto, construído uma agenda propositiva sobre crescimento econômico a partir da instalação de novas empresas em território amapaense."
Para o economista, a livre concorrência nunca esteve na pauta do vice-governador. "Basta lembrar o caso das Casas Bahia, anos atrás. Jaime foi veementemente contra a instalação em Macapá do famoso grupo de varejo nacional", relata.
Em artigo acadêmico intitulado "As Casas Bahia não entrarão no Amapá. Consumo, política e intersubjetividade", o doutor em Sociologia Fábio Fonseca de Castro destaca as dificuldades do macapaense para ter "acesso ao consumo e, particularmente, ao consumo por crédito" como um dos entraves para impulsionamento da qualidade de vida na capital amapaense. "Em geral, reclamavam de que não tinham opções de compra e era preciso viajar periodicamente a Belém, no vizinho estado do Pará, para fazer compras", comenta.
Com a instalação das Casas Bahia no Amapá, sugere o economista Valdeci Gusmão, essa barreira ruiria por terra. "Também é relevante mencionar a presença em Macapá do grupo paraense Y. Yamada. Por quase dois anos, a holding familiar resistiu aos sistemáticos ataques da concorrência, com ações típicas de sabotagem, até capitular e retornar para Belém", frisou o especialista, acrescentando ser possível que as medidas tenham sido intencionais, com gente graúda da iniciativa privada financiando as supostas operações.
Já no entendimento de Fábio Fonseca de Castro, a informação sobre o interesse das Casas Bahia no Amapá mexeu com o "consumo reprimido" da população, em especial, pela escassez de oferta no varejo, a ausência de um mecanismo de crédito ágil, uma frustração social longa e profunda, em função da dependência em relação à praça comercial de Belém".