Gilvam Borges opera pesado para acabar com o poder dos Favachos
Por Richard Duarte
Uma verdadeira briga de foice no escuro está em andamento entre as paredes, portas e janelas da sede regional do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), localizada na avenida Procópio Rola, quase esquina com a rua Hildemar Maia, Macapá. O embate entre o ex-senador Gilvam Borges, que tenta manter, a todo custo, o controle absoluto sobre a legenda, e o deputado federal Acácio Favacho, que não esconde de ninguém a intenção em mandar o velho cacique emedebista para o lugar onde judas perdeu as botas, entra em clima de lava vulcânica.
O confronto, até pouco tempo mantido a larga distância das mídias tradicionais, começa a ganhar contornos de Armagedom, produzindo baixas consideráveis nos dois lados. Não são mais as fontes da imprensa que lançam e conduzem esta batalha sangrenta. E isto vem confundindo políticos, marqueteiros e toda a máquina eleitoral do passado. "A tensão política está entrando em espiral crescente com a proximidade da campanha eleitoral, e o acirramento dos ânimos pode descambar para rupturas mais graves. É provável que para seguir no comando do partido os Borges abandonem a esfera diplomática e partam para o enfrentamento com os Favachos", analisa o cientista político Hidelberto Correa.
O fato novo é que todo esse embate vem se desenrolando nas redes sociais, explica o especialista, basicamente nas telinhas dos telefones celulares. "As rádios, os jornais que ainda resistem, as redes de tevês abertas e a cabo, os grandes jornais nacionais e os regionais, e até os pequenos veículos municipais são apenas coadjuvantes nessa peleja."
Desde quando passou a perceber os movimentos de Acácio Favacho em direção ao comando do MDB Amapá, Gilvam Borges colocou as barbas de molho e começou a construir uma estratégia de autodefesa para preservação de seu feudo. Para isso, ainda conta com um velho aliado, o ex-senador José Sarney (MDB-MA), que apesar da idade avançada, preserva o enorme prestígio junto às três esferas de poder da República. É com Sarney, a quem serviu com impressionante fidelidade, que espera contar caso o poder político do jovem congressista alcance a estratosfera.
Quando migrou do PROS para o MDB, Favacho foi mencionado em uma mensagem institucional emitida pelo comando nacional do partido como "um grande líder [político]", admirado pela "firmeza, garra e determinação". A mãe de Acácio, a ex-deputada estadual Francisca Favacho, também fez a migração do PROS para o MDB, movimento também destacado por ela pelo retorno à agremiação.
O movimento no tabuleiro emedebista não passou despercebido por Gilvam Borges que, após os salamaleques e rapapés de praxe, mensurou o tamanho da ameaça chegando a conclusão de que precisava reforçar a artilharia. A preocupação de Borges não soava extemporânea. Aliada de longa data, Fátima Pelaes, ex-secretária Especial de Políticas para as Mulheres no governo de Michel Temer, sucumbiu "às articulações perpetradas na calada da noite pelo deputado Acácio Favacho", segundo suas próprias palavras. A rasteira na veterana emedebista, nominada por ela de "quebra de acordo dentro do partido", também foi sentida pelo chefe do clã Borges.
Por algum tempo, Pelaes lambeu as feridas em angustiante silêncio. Até não suportar mais. Em recente entrevista a uma emissora de rádio local, revelou detalhes da tramoia, também aproveitou para abrir a caixa de ferramentas contra os Favacho. Classificou a jogada de Acácio como "práticas sorrateiras", e revelou ter feito duro desabafo a mãe do parlamentar. "Eu posso afirmar que o principal causador de tudo isso, da minha saída do MDB, foi o deputado Acácio Favacho”, comentou, assinalando que Acácio Favacho é "um jovem, mas com práticas muito ruins".
Gilvam Borges maturou o contragolpe. E esperou o momento certo para desferir o ataque, um cruzado de direita no queixo do colega de partido. Barrou Francisca Favacho da primeira suplência na candidatura ao Senado da médica Rayssa Furlan, mulher do prefeito de Macapá, Antônio Furlan, ocupando-a com a indicação de seu filho, Gonçalo Borges. Deixou a ex-deputada estadual mais próxima ao rés do chão.
Outra jogada do titereiro emedebista atende pelo nome de Max da AABB. Converteu a filiação do deputado estadual em acontecimento de grande relevância política. Max tenta a reeleição para o terceiro mandato consecutivo no legislativo estadual. As chances de ser bem-sucedido depende do fundo partidário, totalmente controlado por Borges.
Outro apadrinhado bancado pelo ex-senador é o médico Mauro Secco, cuja pré-candidatura a deputado federal foi lançada na quarta-feira, 20 de julho. O plano é pressionar o torniquete no pescoço de Acácio Favacho sem ele perceber o estrangulamento político.