Jaime Nunes divulga vídeo com críticas ao próprio governo. A quem ele quer enganar?
Por Richard Duarte
“Gente, se tem uma coisa que sempre deixou o Jaime [Nunes] muito indignado é a situação da saúde pública aqui do Amapá. A desumanidade, a total falta de respeito com o nosso povo.” Essas são as frases iniciais de um texto produzido pela assessoria de campanha do empresário e vice-governador Jaime Nunes, pré-candidato ao governo pelo PSD, narrado em vídeo por um homem sem identificação, aparentando ter 45 anos de idade, de cabelos e barba esbranquiçadas, com voz falsamente titubeante, se esforçando em passar para os incautos uma revolta de faz-de-conta com a situação do sistema público de saúde.
“A falta de respeito com a vida humana. Que gestão é essa que deixa as pessoas sofrerem?”, questiona o personagem, referindo-se ao governo Waldez Góes (PDT), composto por Jaime desde as eleições gerais de 2018. Veiculada nas redes sociais do pré-candidato, a peça ganhou repercussão local e nacional pelo conteúdo contraditório evidenciado pelos coordenadores de pré-campanha do dono da Domestilar, rede de lojas do setor de eletrodomésticos.
“Eu assisti o vídeo. No início, até dei risada. Depois, fiquei aborrecido. Essa crítica contra as péssimas condições da saúde pública no estado é um tiro no pé do Jaime Nunes. Há três anos e meio ele é vice-governador, se quisesse poderia ter agido para minimizar a situação. Mas preferiu ficar no conforto do escritório dele, se aproveitando do cargo para multiplicar o próprio patrimônio. Para mim, é um oportunista”, observa o motorista de aplicativo Almir Souza.
O comentário de Souza não soa extemporâneo. Como vice-governador, constitucionalmente Jaime Nunes tem por obrigação dar “suporte ao governador nas ações voltadas para o desenvolvimento econômico, político e social do estado, que implica articulações e relações institucionais com todas as esferas de Governo”. Infelizmente, Nunes optou em se vitimizar, afirmando que o governador reduziu o espaço dele na gestão. “No entanto, soube ser vassalo do governador quando anuiu em assinar a nomeação da primeira-dama para o Tribunal de Contas do Estado”, critica Souza.
Outro potente petardo detonado sobre a cabeça de Jaime Nunes foi desferido pelo deputado federal Camilo Capiberibe (PSB), igualmente assombrado com a desfaçatez da peça de pré-campanha elaborada e publicada pela assessoria do pré-candidato do PSD. “Durante três anos e cinco meses ficou calado sobre a desgraça que é a gestão que ele compõe. Agora, vem com esse papo de mudança. A quem ele quer enganar?”, publicou o pessebista numa rede social.
“Só agora o vice-governador enxergou as más condições da saúde pública no estado?”, questiona um integrante do Conselho Regional de Medicina do Estado do Amapá (CRM-AP), cuja identidade pediu para ser mantida em sigilo. A pergunta está fundamentada nas inúmeras ações de fiscalização realizadas pelo CRM, com constatações de graves deficiências em hospitais públicos como centro cirúrgicos sem medicamentos anestésicos, cancelamento de exames básicos, com pacientes em situação crítica sendo dispensados das portas dos hospitais. O cenário de terra arrasada na saúde pública do Amapá é tão revoltante, que uma médica contou aos conselheiros do CRM que pagou com o próprio dinheiro exames para que um paciente pudesse receber alta.
Indiferente à realidade que sempre esteve escanrada à sua frente, Jaime Nunes prossegue em sua cruzada contra seu próprio governo utilizando a voz de seu ventríloquo para tentar confundir o eleitor amapaense. "Saúde é direito de todos. Mas, aqui no Amapá, este direito está sendo totalmente desrespeitado", diz o ventríloquo.