Documentos da Justiça comprovam envolvimento do Prefeito de Macapá Antônio Furlan em organização criminosa para compra de votos
Por Richard Duarte
O homem que hoje ocupa o principal gabinete do Palácio Laurindo Banha, sede da Prefeitura de Macapá, é suspeito de coordenar um dos maiores esquemas de compra de votos já desarticulados pela Polícia Federal nos últimos cinco anos. O nome dele é Antônio Paulo de Oliveira Furlan, ou mais conhecido pela alcunha de Dr. Furlan, eleito prefeito de Macapá nas eleições municipais de 2020, após acirrado confronto com o empresário Josiel Alcolumbre.
Apoiado financeiramente pelo empresário bolsonarista Jaime Nunes, vice-governador e candidato ao governo do Estado pelo PSD, Furlan fez uma campanha milionária em 2020, com uso ilegal de volumosos recursos privados e públicos, provenientes do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), o Fundo Eleitoral, dissipando boa parte na aquisição e distribuição de cestas básicas, bebidas alcoólicas, e dinheiro em espécie para compra de votos.
Documentos apreendidos durante operação policial deflagrada pela Superintendência de Polícia Federal na casa e no gabinete do prefeito de Macapá, na manhã de 29 de julho, revelaram a montagem de ampla rede criminosa para compra de votos com tentáculos em toda a capital, especialmente nos bairros mais populosos, a exemplo do Perpétuo Socorro.
Segundo o Ministério Público Eleitoral, leia-se Procuradoria Regional Eleitoral no Estado do Amapá, além de corromper o processo eleitoral de 2020, Antônio Furlan não declarou os gastos na prestação de contas de sua campanha.
Entre os cúmplices do prefeito está o irmão dele, o promotor de Justiça João Paulo de Oliveira Furlan, que segundo o processo em trâmite, coordenava a armação diretamente com seu preposto, Gleison Fonseca da Silva, o Coló, principal operador e intermediador entre os demais membros da quadrilha e os eleitores, geralmente pessoas em situação de vulnerabilidade social que eram convencidas a negociar voto por quantias oferecidas pelos criminosos.
Conforme as diligências federais, enquanto João Furlan agia como responsável pela sustentação financeira do grupo criminoso, determinando “como seria realizado o acerto de abastecimento com os motoristas para o transporte e a compra de votos", Coló articulava "a logística da compra de votos, tanto em dinheiro, quanto em cestas básicas” diretamente com os intermediários de base, moradores do bairro ou da rua identificados como "lideranças populares".
Todas essas informações, e centenas de outros indícios, compõe um volumoso inquérito mantido em segredo de justiça até a quarta-feira, 14 de setembro, quando o Tribunal Regional Eleitoral do Amapá decidiu torná-lo de domínio público e todas essas ações delituosas vieram à tona, revelando o aspecto nada convencional do "jeito Furlan" de fazer campanha eleitoral.
Pelo conteúdo explosivo dos documentos agora à disposição da sociedade amapaense, metade dos 101.091 votos atribuídos a Antônio Furlan são resultados de ação criminosa. Ou seja, legalmente Furlan não venceu as eleições de 2020.
Mas essa sentença cabe à Justiça Eleitoral.
Os crimes cometidos pelo prefeito de Macapá e seus comparsas estão configurados nos artigos 240 a 250 e 282, todos do Código de Processo Penal, bem como no artigo 6º, da Lei Complementar número 75/1993, e previstos nos artigos 299 (“compra de votos”) e 350 (omissão na prestação de contas) do Código Eleitoral, podendo resultar em perda de mandato e sete anos de reclusão.