Jaime Nunes coloca o time da mudança em campo, com Gilvam Borges como vice governador
Por Richard Duarte
O empresário e vice-governador Jaime Nunes, agora candidato oficial ao governo pelo PSD, parecia pouco à vontade na manhã de quinta-feira, 21, durante o anúncio da candidatura do ex-senador Gilvam Borges (MDB) ao cargo de vice-governador, formalizando, dessa forma, a chapa "Jaivam".
O sorriso de monalisa congelado na cara escorrida mal conseguia disfarçar a raiva interna, resultado de negociações angustiantes com o velho cacique emedebista. Nunes queria um nome técnico, à maneira do que fez seu principal oponente nas eleições deste ano, o pré-candidato ao governo pelo Solidariedade, Clécio Luís, que tem como candidato a vice o ex-secretário de Planejamento, Teles Júnior.
Durante a convenção, em vários momentos o dono da Domestilar baixou os olhos e fitou seus pés, como se estivesse constrangido. Durante alguns momentos, os dois homens se olharam aparentemente "entusiasmados". Quando Jaime falou, sua voz estava destituída de qualquer emoção. Precisou de muito esforço para segurar a mão de Borges, levantar os braços e fazer o tradicional "v" da vitória.
O comportamento irregular de Jaime Nunes, conforme interpretações de renomados analistas da política local presentes na convenção, deixava transparecer a insatisfação dele em compor chapa com o emedebista. Seus gestos e risos eram meramente protocolares. Não havia espontaneidade nas palavras. "Não fazia parte de seu projeto de poder ter à sombra um político com a trajetória controversa de Borges", afirmam.
Para conquistar o direito ao cargo de vice-governador na chapa com Jaime Nunes, o ex-senador lançou mão de ardis nada convencionais. Primeiro, mesmo ainda sendo reconhecido como pré-candidato ao Senado, permitiu que o prefeito Antônio Furlan (Cidadania) costurasse a pré-candidatura de Rayssa Furlan ao mesmo cargo. Fontes de dentro do MDB Amapá confirmam essa informação. "O Gilvam é ladino", disse um deles. Segundo, manteve a postura de quem carrega sobre os ombros o destino do povo amapaense. "Nas negociações internas, se apresentou como melhor opção para o cargo", comentou um dos dirigentes do PSD.
Mas tanto Jaime Nunes quanto Antônio Furlan sabem muito bem com quem se meteram. Nos exercícios dos mandatos de deputado federal e senador pelo MDB, Gilvam Borges ganhou notoriedade nacional como godfather de seu clã, no Amapá, e fiel escudeiro de outro godfather ilustre, o ex-senador José Sarney (MA), célebre por comandar uma oligarquia com alcance tentacular.
Sempre apoiado por Sarney, Gilvam Borges pavimentou a longa carreira política com peculiar picardia, chistes inusitados e extrema bazófia. Foi assim, dissimulando o ego crescente, ignorando o ridículo, troçando dos adversários e regando a amizade com o maranhense poderoso que o ex-senador pelo Amapá ergueu um império de comunicação e por bom tempo dominou a política no cenário regional.
Para alcançar esse objetivo, Gilvam Borges interpretava o personagem do homem afável, brincalhão e humilde, com suas inseparáveis alpercatas. E essa imagem ficou tão cristalizada no inconsciente coletivo da população que conseguiu eleger seus familiares (irmãos, filhos e primos) para cargos em prefeituras, Câmaras de Vereadores e Congresso. "Com Gilvam na ilharga, o Jaime vai ficar igual cavalo amarrado em tronco de jequitibá. Pode até relinchar feito um potrinho desmamado, ou escoicear à vontade, que Gilvam vai transformar a vida dele num inferno", prevê uma antiga aliada do emedebista ilustre.