Ganância de Jaime Nunes pelo poder pode levar Raissa Furlan a ficar de fora da disputa pelo Senado
Raissa Furlan flagrada em reunião secreta com Jaime Nunes pode ser expulsa do MDB
A Comissão de Ética e Disciplina do MDB Amapá divulgou Edital de Convocação para julgar, em caráter de urgência, denúncia de suposta prática de infidelidade partidária da candidata ao Senado Rayssan Furlan, mulher do prefeito de Macapá, Antônio Furlan (Cidadania). Conforme o documento, Rayssa foi filmada participando de reunião reservada com o empresário bolsonarista, vice-governador e candidato ao governo pelo PSD, Jaime Nunes.
No edital, assinado por Gilvam Borges, presidente da Comissão Executiva Estadual do MDB Amapá, e candidato ao governo pela coligação "Eficiência e Trabalho (MDB, PROS e PODEMOS), a aspirante à Câmara Alta teria desrespeitado "orientações partidárias" ao encontrar-se, confidencialmente, com opositor de Borges na disputa pelo governo do Estado. Caso a assembleia extraordinária do MDB Amapá confirme a prática de infidelidade, Rayssa poderá ser expulsa do partido.
Logo após a veiculação do edital nas redes sociais, no sábado, 13 de agosto, o meio político amapaense entrou em polvorosa, em especial o prefeito macapaense, que vem apostando todas as fichas na candidatura da esposa.
Ao filiar-se no MDB no dia 26 de março, a primeira-dama da capital amapaense não revelou o cargo que pretendia disputar. Preferiu respostas ambíguas, do tipo "a decisão ainda é analisada".
Três meses depois, durante convenção estadual do MDB, o nome dela foi aprovado como candidata do partido ao Senado Federal. Era a primeira vez que a médica dermatologista de 35 anos concorreria a um cargo eletivo.
E foi logo no segundo mais importante na escala de poder na agremiação. A confirmação de Rayssa Furlan na corrida eleitoral temporariamente pôs fim a enorme expectativa da ocasião em torno da disputa interna pela indicação do postulante ao Senado, uma vez que o dirigente emedebista era tido como o nome forte para o cargo.
No mesmo evento, o ex-senador Gilvam Borges anunciava sua indicação para vice na chapa com Jaime Nunes.
Porém, quatro dias depois, devido a intensas manifestações dos aliados de Nunes contrários à indicação, Borges anunciou sua desistência.
Na entrevista, o ex-senador não poupou críticas ao dono da Domestilar. "O Jaime não me quis como vice. Quem não me quer como amigo, se candidata a ser meu inimigo", ameaçou.
Nos últimos dois meses, a vida pública do casal Antônio e Raysan Furlan tem sido abalada por sequentes terremotos políticos. O prefeito e sua mulher estiveram no olho do furacão em duas operações da Polícia Federal. Ambas atingiram as duas principais pilastras de sua gestão à frente da Prefeitura de Macapá: equilíbrio e honestidade.
E Furlan está sob ameaça de uma terceira ação policial prestes a eclodir na Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA), certamente para cumprimento de mandados de busca e apreensão de equipamentos e documentos referentes a denúncia de fraude em licitação de gráficas.
Até o começo deste ano, Furlan era o "homem de ouro" do então pré-candidato ao governo Jaime Nunes. Bancado pelo poderoso lojista quando disputou a Prefeitura de Macapá nas eleições de 2020, tinha uma dívida financeira e de gratidão cuja fatura seria cobrada exatamente neste pleito.
Ocorre que no andamento da campanha, o prefeito manobrou em direção a Gilvam Borges, outro financiador de sua última campanha eleitoral, ainda aliado do aspirante a governador pelo PSD, e articulou para que o cacique emedebista avalizasse a filiação de Rayssa.
Era o começo de um projeto político familiar que, como tantos outros no Amapá, estava sendo construído para ser bem-sucedido e ter durabilidade.
Furlan só não esperava ser alvo de duas operações da PF em menos de 15 dias e, devido a uma delas, ter feito acusações gravíssimas ao até então aliado senador Davi Alcolumbre (União Brasil), e a um magistrado eleitoral, acusando-o de "propineiro".
Diante de tantos equívocos e denúncias bombásticas, sua credibilidade política e pessoal sofreu profundos abalos sísmicos.