Nova penalidade eleitoral sofrida por Jaime Nunes expõe fraturas de uma campanha eleitoral moribunda
Por Richard Duarte
O juiz eleitoral Normandes Antonio de Sousa acatou representação por propaganda irregular apresentada pela coligação "Amapá para todos" no Tribunal Regional Eleitoral do Amapá (TRE-AP) contra o candidato ao governo pelo PSD, empresário bolsonarista Jaime Nunes, por usar computação gráfica (montagem) para macular, com injúria e difamação, as imagens do governador Waldez Góes (PDT) e do também candidato ao governo pelo Solidariedade, Clécio Luís.
A peça de propaganda eleitoral veiculada em 9 de setembro na TV Record (retransmitida no Amapá pela TV Equatorial, empresa em que Nunes é sócio), tem conotação negativa, e claramente ofensiva, uma vez que as imagens alteradas por meio de aplicativos de tecnologia são vedadas pela Legislação Eleitoral.
Conforme argumentos da defesa de Clécio Luís, a verba eleitoral (dinheiro público do fundo partidário) está sendo aplicada na produção de "material em desacordo com a regulamentação das propagandas [eleitorais], e mantê-la seria abrir precedente gravíssimo a outros candidatos".
No documento, a coligação "Amapá para todos" requereu a "concessão de medida liminar, para se determinar a imediata suspensão da veiculação da propaganda eleitoral impugnada, e, no mérito, a procedência da representação, confirmando a medida liminar e determinando-se a perda em dobro do tempo em cada vez que a inserção foi ao ar".
Candidatura controversa
Vice-governador do Amapá desde 2019, quando tomou posse com Waldez Góes, o milionário Jaime Nunes, filiado ao PSD do senador Lucas Barreto, só decidiu disputar o governo do Estado praticamente em cima da hora. No segundo semestre de 2021, quando essa perspectiva ainda era somente um projeto vago, sem vislumbre de que poderia virar realidade, Nunes ainda não havia decidido se entraria na disputa pela principal cadeira do Palácio do Setentrião, sede do governo amapaense.
Essa indecisão, pautada na expectativa de que Góes o apoiaria na aventura política, prosseguiu praticamente até o fim daquele ano. Nos cálculos do empresário Jaime Nunes, mesmo com as escaramuças travadas nos porões do executivo estadual, a chance de ter a pré-cadidatura avalizada pelo chefe do executivo seria entendida como uma "benção papal" para um processo de beatificação.
Ledo engano.
O grupo político de Waldez e Marília Góes, primeira-dama, ex-deputada estadual e agora conselheira do Tribunal de Contas do Estado, nunca esqueceu a "Operação Mãos Limpas", deflagrada no Amapá no dia 10 de setembro de 2010 com apoio, segundo informações da própria Polícia Federal, do empresário Adiomar Veronese, dono da Nutriama e sócio de Nunes em inúmeros empreendimentos espalhados pelo Amapá.
Ao ser informado da decisão de Góes em apoiar a candidatura do ex-prefeito de Macapá ao governo, Nunes ficou apoplético. E teve a confirmação de que realmente era malquisto pelo governador e seus apoiadores mesmo sendo o vice-governador, e financiador da campanha do pedetista em 2018.
Ataques ao próprio governo
Intérpretes do cenário político atual afirmam que as verdadeiras intenções de Jaime Nunes é vingar-se dos três anos e nove meses que passou como vice-governador meramente ornamental. Raríssimas vezes assumiu o governo com a ausência do titular. Mesmo quando Waldez Góes viajava, somente para exames médicos de rotina em Brasília, levava o governo junto. E do hospital, comandava o destino dos quase 900 mil amapaenses.
Ainda assim, com todas essas manifestações de malquerença, Waldez e seu grupo conseguiram convencer o vice-governador para que assinasse a nomeação de Marília ao TCE. Nunes ainda considerava a possibilidade de que o governador se desincompatibilizaria em abril de 2021 para se candidatar ao Senado, deixando-o no comando da máquina político-administrativa estadual.
O comportamento de Jaime Nunes na campanha eleitoral deste ano, afirmam esses observadores, tem semelhanças com as reações de um marido traído. Suplantado pelo carisma de Clécio Luís, e em queda supersônica nas pesquisas de intenção de voto, descambou para o cometimento de ilegalidades eleitorais, acumulando mais derrotas do que êxitos.