Geração de empregos no Amapá: um fenômeno silencioso no extremo Norte Brasileiro

Geração de empregos no Amapá: um fenômeno silencioso no extremo Norte Brasileiro

 

 

O Amapá, tradicionalmente visto como uma das regiões mais periféricas da economia brasileira, está protagonizando um fenômeno digno de atenção nacional e internacional: liderar o crescimento proporcional da geração de empregos formais no país, com um dinamismo econômico em alguns setores, a exemplo do varejo, que surpreendentemente, mesmo guardadas as proporções, se compara a índices do mercado varejista da China. Este avanço não é casual, mas resulta de uma articulação estratégica entre políticas públicas ousadas, investimentos estruturantes e uma nova postura empreendedora do setor privado.

Crescimento formal acima da média nacional

Segundo os dados mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), o Amapá registrou uma variação positiva de 9,74% na criação de empregos formais nos últimos 12 meses, com saldo acumulado de 8.860 novos postos de trabalho até março de 2025. Com isso, o estado atingiu um estoque total de 96,5 mil trabalhadores com carteira assinada — um feito expressivo para uma unidade federativa com população inferior a 900 mil habitantes.

Esse desempenho coloca o Amapá na liderança do país em termos proporcionais, superando com folga estados mais industrializados e economicamente robustos, como São Paulo e Minas Gerais.

O Papel do comércio varejista: protagonismo nacional

O motor mais evidente dessa transformação está no comércio varejista, que cresceu 12% até fevereiro de 2025, segundo o IBGE — taxa quase seis vezes superior à média nacional (2,3%). Trata-se de uma expansão que remete ao ritmo chinês, que foi de 14,4%, em 2024, segundo o FMI. Esse avanço reflete o fortalecimento da cadeia de consumo em múltiplos setores: supermercados, combustíveis, materiais de construção, eletrodomésticos e até papelarias.

O crescimento varejista não foi aleatório: ele se sustentou em vetores como o aumento da renda média via concursos públicos, o ingresso de antigos servidores do extinto Território Federal nos quadros da União e a implementação de políticas como o “Selo Amapá”, que estimula o consumo de produtos locais e valoriza a identidade regional.

Além do comércio, três setores se destacam como pilares da nova economia amapaense: turismo de eventos — o estado se firmou como um destino emergente, atraindo turistas nacionais e internacionais com eventos como a Expofeira, o Reveillon, o Startup 20 e ações estratégicas para promover o ecoturismo e o turismo cultural; construção civil — impulsionada por grandes obras públicas, como o Novo Hospital de Emergência de Macapá, esse setor contribuiu diretamente para a criação de empregos e dinamização econômica, especialmente na capital e nas regiões urbanizadas do interior; agropecuária sustentável — a revalorização do campo, com novas titulações de terras e respeito ao novo Código Socioambiental, permitiu que a expansão agrícola ocorresse com responsabilidade ambiental, gerando empregos no interior e fortalecendo a segurança alimentar e produtiva do estado.

Os “outliers” econômicos: informalidade estruturada e digitalização

Outro fenômeno interessante é a chamada “informalidade estruturada”. Muitos empreendedores informais passaram a operar em níveis quase formais, beneficiando-se da digitalização dos pagamentos, principalmente com a popularização do Pix, e da simplificação dos processos de regularização. Essa transição suave para a formalidade tem ampliado a base de arrecadação e consolidado novos padrões de consumo em áreas antes marginalizadas, como comunidades ribeirinhas e periferias urbanas.

Um Modelo para Outras Regiões da Amazônia Legal

Na análise da economista Mariana Lobo, do Centro de Estudos Amazônicos, o Amapá se tornou um “laboratório bem-sucedido de desenvolvimento periférico”, mostrando que, com articulação institucional e políticas públicas consistentes, é possível criar um ambiente econômico vigoroso mesmo em regiões historicamente negligenciadas.

O vice-governador Teles Júnior reforça essa visão: “O Amapá continua mantendo uma tendência sólida de crescimento na geração de empregos formais, resultado direto da política econômica adotada pela atual gestão”.

O que o Amapá vive hoje é mais do que uma boa fase — é uma mudança de paradigma. O estado está reconfigurando sua matriz econômica com base em inovação, sustentabilidade, inclusão e articulação entre o setor público e privado. Os dados comprovam: gerar quase 9 mil novos empregos em um ano, liderar o crescimento varejista nacional e manter estabilidade institucional é prova de que o desenvolvimento pode (e deve), começar pela ponta.

Em tempos de incerteza econômica no país, o Amapá surge como um exemplo de que é possível transformar desafios históricos em oportunidades concretas de desenvolvimento, com planejamento, coragem e políticas públicas eficientes. 

 

Por Juan Monteiro - Jornalista

MBA em Economia do Agronegócio

MBA em Marketing do Agronegócios

Mestrando em Negócios Internacionais