Fechamento de indústria em Santana coloca em xeque a liderança política de Jaime Nunes
Por Richard Duarte
O anúncio do encerramento das atividades da Soreidom Brazil Ltda, indústria de trigo e beneficiamento de arroz estabelecida no município de Santana, a 21 quilômetros de Macapá, agravou ainda mais a crise do desemprego no Amapá, com taxa estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 17,5%, de acordo com demonstrativos de fevereiro passado. A empresa franco-brasileira, pioneira no segmento econômico na região Norte, foi obrigada a cerrar as portas por "problemas de tributação" conforme esclarecimentos prestados pelo diretor geral, Jango Yersin.
Para o executivo da Soreidom, faltou à empresa uma política de incentivo fiscal para garantir a continuidade da produção, que vinha em espiral crescente até o começo deste ano, e para assegurar novas oportunidades de trabalho a dezenas de santanenses.´"É muito complicado fazer um grande investimento sem amparo tributário", assinalou Yersin.
A questão, no entanto, é bem mais complexa conforme explica a contadora Yasmim Amaral. "O Brasil é um dos países com a maior carga tributária do mundo. Por exemplo, recentemente identificou-se que uma empresa brasileira precisa gastar mais de 1.950 horas por ano para quitar com todos os impostos federais, estaduais e municipais. Em alguns casos, os impostos podem corresponder a 80% do preço de uma mercadoria."
Com este cenário descortinado à frente, e sem muitas perspectivas de ter suas propostas atendidas em nível de Estado, Jango Yersin comunicou o fechamento da fábrica e sua transferência para a Guiana Francesa, onde recebeu "bom apoio fiscal" para intalar-se imediatamente. "Após 15 anos, decidimos paralisar a fábrica em Santana. Estamos prontos para deixar o Amapá", avisou o executivo.
A notícia sobre a mudança da Soreidom para a Guiana surpreendeu a população do segundo maior município amapaense, estimada em quase 124 mil habitantes. Na opinião de boa parte dos moradores da cidade, a situação poderia ter sido evitada com algumas iniciativas fiscais que baixasse a carga tributária da empresa. E lamentaram que somente agora, quando boa parte da infraestrutura física da empresa começa a ser desmontada, o vice-governador do Amapá, empresário Jaime Nunes, tenha procurado os dirigentes da Soreidom Brazil Ltda para "propor diálogo" referente aos "problemas de tributação" alegados por Yersin.
Um deles, Raimundo Nonato Araújo, foi cirúrgico em sua avaliação. "Se não houver uma flexibilidade as indústria (sic) não consegue sobreviver, quando uma empresa encerram suas atividades morre também as esperanças de um povo, pois sem fonte de renda muitas famílias mergulha (sic) na pobreza."
A pergunta que todos se fazem é: Por que só agora Jaime Nunes, um dos homens mais ricos do Amapá, procurou a Soreidom se ela já atuava no Estado desde 2007?
Filiado ao PROS nas eleições gerais de 2018, Nunes foi eleito vice-governador do Amapá numa chapa com o então candidato à reeleição Waldez Góes (PDT). Na ocasião, durante sua prestação de contas à Justiça Eleitoral, informou ser possuidor de uma fortuna calculada em 21.885.903,00. A dinheirama estava investida em imóveis e participação em empresas, entre outras.
Em recente encontro com o diretor geral Jango Yersin, Jaime Nunes "lamentou" o fechamento da indústria de trigo e beneficiamento de arroz "só porque é pré-candidato ao governo do Amapá", comentou o economista Jorge Herbert. "Poderia ter agido com celeridade para impedir esse desfecho ruim para dezenas de famílias santanenses."
Como desculpa para a omissão, Nunes alegou que como vice-governador "não teve condições de estar discutindo o problema de forma ampliada". Insinuou, entrelinhas, ter sido alijado do núcleo de decisões da gestão pedetista por "discordar de pontos específicos" do plano de governo implementado na época. "Isso me levou a um distaciamento do governo", queixou-se, "que culminou com falta de diálogo, de compreensão, de entendimento". Ainda assim, assinala Herbert, em vez de esconder-se atrás dessas desculpas esfarrapadas, poderia ter agido com mais autonomia para impedir, ou adiar, o fechamento da empresa.