Com uma fortuna de 36 milhões de reais e raramente visto em pontes, o milionário Jaime Nunes tenta se passar por humilde para conseguir votos

Com uma fortuna de 36 milhões de reais e raramente visto em pontes, o milionário Jaime Nunes tenta se passar por humilde para conseguir votos

Por Richard Duarte

 

Dono de uma fortuna estimada em quase R$ 36 milhões, o vice-governador Jaime Nunes, empresário bolsonarista candidato ao governo pelo PSD, inicia sua campanha eleitoral nas emissoras de TV do Amapá com vídeo em que aparece caminhando sobre pontes e alagados.

Nada mais surreal do que assistir um milionário usando camisa polo amarfanhada sobre uma calça jeans desbotada, e calçando sapatos surrados, surgir de repente entre palafitas, cumprimentando pessoas em situação de extrema pobreza, com forçada naturalidade.

Mesmo na campanha de 2018, quando concorreu a vice na chapa do governador Waldez Góes (PDT), Nunes foi raramente filmado entre taperas e bandolas mal-ajambradas, tirando uma de "amigo dos pobres". Passou boa parte daquela campanha sob o clima aprazível das poderosas centrais de ar refrigerado de seu gabinete, no escritório central de onde dirige um conglomerado de lojas, fazendas, supermercados, emissoras de TV e rádio, empresas de transporte fluvial, caminhões e carretas, inúmeros terrenos e imóveis.

A estranha aparição de Jaime Nunes na TV gerou milhares de memes nas redes sociais, inclusive, com comparações nada lisonjeiras entre ele e o deputado federal Justo Veríssimo, personagem antológico criado pelo genial humorista Chico Anysio (1931 - 2012).

O congressista fictício de Anysio detestava pobres, embora precisasse deles para se perpetuar no poder por meio de sucessivas eleições. 

A riqueza de Jaime Nunes contrasta com a situação de vulnerabilidade social em espiral crescente no Amapá. Em recente estudo divulgado pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, o Amapá aparece entre os Estados com 40% de sua população vivendo abaixo da linha da pobreza.

Embora no exercício do segundo cargo mais importante do Estado, Nunes está há três anos e oito meses ignorando essa realidade. Poderia ter sido mais proativo, propondo mecanismos para redução dessa imensa massa falida. Pelo contrário. Aproveitou a máquina pública para obtenção de facilidades em negócios nebulosos e triplicar sua fortuna. 

No vídeo de campanha eleitoral, o texto interpretado bisonhamente por Jaime Nunes é como um chute nos testículos do povo amapaense. Ele começa afirmando que "está indignado", e acusa de "incompetência" o próprio governo. Responsabiliza a si mesmo, como vice-governador, pelo "caos" citado em seu arrazoado diante da câmera em movimento. E arremata: "Eu não vim aqui para brincadeira." Como um Justo Veríssimo à moda tucuju, repete a cantilena dos oportunistas prometendo as "mudanças" que, bem fundo de sua consciência deformada, sabe que jamais cumprirá. É mais outro espertinho a repetir o velho, mas sempre atualizado bordão: "Quero é que pobre se exploda!"